15.12.2007

É a desigualdade a causa da violência no Brasil, e não a pobreza, afirma Ariel Alves no congresso do MPSC

O poder de investigação do Ministério Público é fundamental para a proteção dos direitos humanos no Brasil, defendeu o Advogado Ariel de Castro Alves, Coordenador de Relações Internacionais do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, em sua palestra no dia 13 de dezembro, no Congresso Anual do MPSC. Ele foi convidado a falar no evento como representante da sociedade.

O poder de investigação do Ministério Público é fundamental para a proteção dos direitos humanos no Brasil, defendeu o Advogado Ariel de Castro Alves, Coordenador de Relações Internacionais do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, em sua palestra na abertura do 1° Congresso Anual do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), no dia 13 de dezembro. O evento está sendo realizado no Hotel Jurerê Beach Village, em Jurerê, Florianópolis, até 15 de dezembro, com a participação de mais de 100 Procuradores e Promotores de Justiça do Estado. O Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Administrativos, Paulo Antônio Günther, coordenou a mesa durante a palestra do Advogado.

Alves foi convidado a falar no congresso como representante da sociedade e, nesta condição, manifestou repúdio aos projetos de lei em tramitação em Brasília (DF) que buscam reduzir a atuação do Ministério Público, como o recém aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, que visa proibir a investigação da atividade policial. "Se já há corrupção hoje, imaginem a quem iremos recorrer quando essa lei entrar em vigor. Esse poder de investigação é fundamental para a proteção dos direitos humanos", afirmou.

Antes de chegar a esta conclusão, Alves apresentou um cenário no qual considera que "falar em direitos humanos é uma utopia para a grande maioria da população brasileira", apontando que há 50 milhões de habitantes no País que vivem na miséria, "alijados dos seus direitos fundamentais", e que nessa situação os mais prejudicados são as crianças e os adolescentes. "Falar em direitos humanos no Brasil é como tentar pregar a Bíblia no inferno", comparou.

O palestrante lembrou que, ao mesmo tempo em que o Brasil figurou como a 8ª economia mundial, entrou para o grupo de países com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e anunciou a descoberta de uma grande reserva de petróleo, apresentou para o mundo um caso emblemático de desrespeito aos direitos humanos, que foi a manutenção de uma adolescente de 16 anos detida numa cela com 20 homens, onde foi violentada, no Pará. "Esse caso é só a ponta do iceberg . Há 680 adolescentes mantidos em cadeias e carceragens no Brasil, segundo dado do final de 2006 da Secretaria Especial de Direitos Humanos (da Presidência da República)", informou.

Neste caso, Alves não poupou críticas ao sistema de Justiça. "Houve omissão, prevaricação do Judiciário, da Polícia, do Ministério Público e da Defensoria Pública. Todos tiveram culpabilidade", considerou, afirmando que "o bom Delegado de Polícia, o bom Advogado, o bom Promotor de Justiça, e o bom Professor", sempre serão defensores dos direitos humanos no cumprimento de suas atribuições.

Luta é por direitos mínimos

Ariel de Castro Alves também considera que o País precisa avançar e ampliar seu conceito de direitos humanos. "A defesa dos direitos humanos é muito legalista", afirmou, explicando que se busca cumprir no Brasil o que está na lei e em tratados internacionais. "Na prática, ainda estamos lutando por direitos mínimos, somente os civis e políticos. Mas precisamos avançar nos direitos econômicos, culturais e sociais. O Brasil é a oitava economia, mas está entre os 10 países mais desiguais do mundo".

Para ele, a concentração de renda é que é uma violência, e geradora de violência. "Não é a pobreza a causa da violência, mas a desigualdade. O que não quer dizer que a pobreza também não ajude", disse o palestrante, lembrando que a Constituição Federal prevê um imposto sobre grandes fortunas, nunca regulamentado. No Brasil, segundo dados que apresentou, os 50% mais pobres detêm 14% da renda nacional, enquanto 1% dos mais ricos também detêm 14% da renda. E os 10% mais ricos têm 50% da renda.

A missão do Ministério Público

Por fim, o Advogado reafirmou que o papel do Ministério Público é fundamental "diante de toda essa conjuntura", especialmente na proteção dos direitos humanos. E pregou que o sistema de Justiça no País seja também mais humanitário. "Promotores, Juízes e Advogados às vezes têm que deixar de lado os formalismos e os legalismos para fazer seu ideal maior, que é a Justiça. Devemos lembrar sempre que por trás de uma vítima, de uma parte, de um requerente, de um requerido, ou mesmo de um réu, tem sempre um ser humano", defendeu, estimulando os participantes do congresso para uma atuação como "Promotores da Justiça".
Quem é Ariel de Castro Alves
Advogado, 30 anos, Coordenador de Relações Internacionais do Movimento Nacional de Direitos Humanos; coordenador-geral da seção brasileira da Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura (ACAT); presidente do Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo do Campo (SP); membro do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo; secretário-geral do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana do Governo do Estado de São Paulo (Condepe) e conselheiro-relator do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). É fundador e foi advogado da entidade internacional Justiça Global. Foi pesquisador da Human Rights Watch. Também foi coordenador da subcomissão da Criança e do Adolescente da OAB/SP e membro da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB.
Frases do palestrante:
Redução da idade penal e mudanças no ECA

"Mudar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e reduzir a idade penal é legitimar o que ocorreu com a menina no Pará".

"O 'menor' é a vítima e o infrator. A 'criança' é a da família da classe média alta".

"O papel da lei é mudar a realidade, e não se adequar a ela. A lei deve ser um parâmetro para transformar a realidade, um parâmetro de transformação social".

"Não se lembra do ECA quando faltam vagas nas creches, mas se lembra quando um crime é cometido por um adolescente".

"O problema no Brasil não é a inimputabilidade, mas a impunidade, já que só 3% dos crimes são esclarecidos, segundo o Ministério da Justiça".

Direitos humanos

"Falar em direitos humanos no Brasil é como pregar a Bíblia no inferno".

"A concentração de renda que é uma violência e gera a violência, o que não quer dizer que a pobreza também não ajude".

"A Constituição Federal prevê um imposto sobre as grandes fortunas, não instituído. Cadê a reforma agrária e a reforma tributária?".

"Por ironia, a adolescente de 16 anos mantida em cela no Pará fez aniversário no dia 10 de dezembro, Dia Universal dos Direitos Humanos. Esse caso é só a ponta do iceberg . Infelizmente, só estatística ".

Respo nsabilidade da sociedade

"O adolescente apreendido por ato infracional fala que está todo mundo roubando, não entende por quê mudar. É mensalão, dinheiro na cueca, só maus exemplos".

"O que se prega na sociedade e na novela é o consumo, só é bom quem tem bens materiais".

"Já vi adolescente chegar em Centro de Internação para infratores e ser aplaudido pelos demais por ter aparecido no programa de TV. Televisões são concessões públicas. Até que ponto os meios de comunicação não contribuem para a violência?".

Leia mais sobre o 1° Congresso Anual do MPSC:
1° Congresso Estadual do Ministério Público de Santa Catarina
Data: 13, 14 e 15 de dezembro de 2007
Local: Hotel Jurerê Beach Village, Jurerê Internacional, em Florianópolis (SC)
Inscrições: pelo e-mail ceaf@mpsc.mp.br
Público-alvo: Procuradores e Procuradoras de Justiça, Promotores e Promotoras de Justiça do MPSC
Informações: (48) 3229.9190 (Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional - CEAF)

PROGRAMAÇÃO

Dia 13 de dezembro de 2007
19h: Abertura
20h: Palestra com Ariel de Castro Alves - Advogado e Coordenador de Relações Internacionais do Movimento Nacional de Direitos Humanos
21h30: Jantar por adesão
Dia 14 de dezembro de 2007
9h: Painel de experiências
11h: Gercino Gerson Gomes Neto, Procurador-Geral de Justiça do MPSC
12h30: Almoço
14h: Palestra com Paulo Prado - Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso
15h: Assembléia Geral da ACMP (1ª convocação)
19h: Coquetel
20h: Lançamento de livros (autógrafos)
20h30: Jantar de Confraternização da ACMP
Dia 15 de dezembro de 2007
9h30: Apresentação do Sistema de Informações e Gestão do Ministério Público
10h15: Apresentação do Plano Geral de Atuação 2008
11h: Painel com Demóstenes Torres, Senador da República
Programação opcional: 15 de dezembro de 2007
14h: Curso de Segurança e Defesa Pessoal - Assessoria Militar
Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC