25.07.2025

Operação Entre Lobos: Número de possíveis vítimas chega a 330

Menos de três dias após a deflagração da operação, mais 115 pessoas que teriam sido vítimas da organização criminosa que praticava um esquema interestadual de estelionato contra idosos procuraram o Ministério Público. Outras 215 possíveis vítimas já tinham sido identificadas durante a investigação prévia. A operação cumpriu 13 mandados de prisão e 35 mandados de busca e apreensão em Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Bahia e Alagoas
Post

Foram necessários menos de três dias para que aumentasse em mais de 50% o número de supostas vítimas da organização criminosa que praticava um esquema interestadual de estelionato contra idosos, desarticulada com a Operação Entre Lobos, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO) na terça-feira (22/7) em apoio à Promotoria de Justiça da Comarca de Modelo.

Mais 115 pessoas procuraram o Ministério Público em busca de ajuda, elevando para 330 o número de pessoas que teriam sido enganadas pelo grupo criminoso. O número pode crescer ainda mais, considerando o volume de ações revisionais movidas pelo escritório de advocacia dos investigados.

Pessoas que se identificarem como vítimas do esquema devem procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência, o qual será posteriormente encaminhado ao Ministério Público para as providências cabíveis. Também podem contatar a Ouvidoria do Ministério Público ou a Promotoria de Justiça de Modelo. ''É fundamental que todas as vítimas se manifestem para que a investigação possa dimensionar adequadamente o alcance dos crimes, identificar os lesados e garantir a devida reparação dos danos,  a responsabilização criminal dos investigados e a identificação de outras pessoas que porventura integravam a organização criminosa'', considera o Promotor de Justiça Edisson de Melo Menezes, da comarca de Modelo.

A Operação Entre Lobos cumpriu simultaneamente 13 mandados de prisão - oito preventivas e cinco temporárias - e de 35 mandados de busca e apreensão em 12 municípios de cinco estados da Federação - Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Bahia e Alagoas.

Dez dos 13 presos estão detidos no Presídio de Chapecó. Três deles foram presos fora do estado. Um deles foi preso na cidade gaúcha de Planalto, na divisa com Santa Catarina, e trazido imediatamente para o estado. Outros dois foram presos em Salvador, na Bahia, e foram prontamente buscados pela Polícia Penal catarinense nessa quinta-feira (24/7). Apenas os três que tinham base no Ceará permanecem na sua origem, detidos em Fortaleza.

O GAECO e a Promotoria de Justiça de Modelo se concentram, agora, na tomada do depoimento das possíveis vítimas para em seguida proceder à oitiva dos investigados presos. Em paralelo, será iniciada a análise dos 5,8 mil documentos e os dados extraídos de 18 computadores, 22 telefones celulares e 17 mídias eletrônicas apreendidos na operação.

''Neste momento o Ministério Público trabalha na análise dos documentos e recebe inúmeras novas reclamações de pessoas que teriam sido vítimas para que possa deflagrar a ação penal. Os dados coletados positivam que se tratava de organização estruturada que lesava muitas pessoas em Santa Catarina e também fora do Estado. Pretendemos conseguir ressarcimento aos envolvidos, estancando a atuação ilegal dos investigados'', ressalta o Coordenador Estadual do GAECO, Promotor de Justiça Wilson Paulo Mendonça Neto.

Durante a operação também foram apreendidos R$ 115,7 mil, além de 6,7 mil dólares e euros, sete veículos e duas armas com 60 munições.

Post

Características do Esquema Criminoso

A investigação, iniciada há quase um ano a partir de denúncias que apontavam a exploração financeira de vítimas por meio de cessões de crédito judicial, revelou um esquema sofisticado e coordenado que operava através de múltiplas estratégias predatórias.

A organização criminosa abordava vítimas, predominantemente idosos e aposentados, em suas residências ou por outros meios, oferecendo a propositura de ações revisionais de contratos bancários. Após o ajuizamento dessas ações, muitas vezes sem o devido discernimento dos clientes e sem qualquer informação sobre o processo, as vítimas eram induzidas em erro e ludibriadas a assinar contratos de cessão dos valores de direitos judiciais, resultantes das ações propostas, às empresas de fachada que integravam a organização criminosa.

Post

A apuração também apontou a captação de clientes via internet, com o uso do Instituto de Defesa do Aposentado e Pensionista (IDAP), uma fachada institucional para direcionar as vítimas ao esquema fraudulento. As pessoas entravam no site e assinavam os documentos necessários para a organização criminosa ajuizar a ação. O site do IDAP é exposto em âmbito nacional para atrair aposentados, pretensas vítimas da organização.

As cessões de crédito eram firmadas por valores significativamente abaixo dos montantes reais a receber nas ações judiciais. A análise dos dados coletados durante a investigação revela a dimensão da exploração praticada contra as vítimas, com idade média de 69 anos. As vítimas eram levadas por integrantes do grupo a cartório para reconhecimento de firma, visando dar aparência de credibilidade à negociata espúria.

Até o momento foram identificadas cerca de 215 vítimas do esquema criminoso, porém há uma estimativa de que mais de mil pessoas podem ter sido lesadas pela organização criminosa em SC e em outros estados, demonstrando a magnitude e o alcance interestadual desta estrutura fraudulenta.

Para ilustrar a gravidade da exploração aos idosos, casos concretos demonstram a disparidade entre os valores liberados pela Justiça e os pagamentos efetivamente realizados às vítimas.

  • Em situações analisadas, enquanto uma vítima tinha direito a receber R$ 146.327,17 determinado judicialmente, recebeu apenas R$ 2.500,00 por meio da cessão fraudulenta, representando apenas 1,71% do valor devido.
  • Outra vítima, com direito a R$ 117.711,86, recebeu somente R$ 2.500,00, correspondendo a 2,12% do montante.
  • Um terceiro caso revela que uma vítima com crédito judicial de R$ 115.660,20 recebeu apenas R$ 2.000,00, equivalente a 1,73% do valor que lhe era devido por direito.
Post

As investigações demonstraram que os contratos de cessão eram assinados em nome das empresas de fachada Ativa Precatórios e BrasilMais Precatórios, porém os alvarás eram todos expedidos em nome do escritório de advocacia da pessoa que a investigação apontou como chefe da organização criminosa. Depois, os valores eram, em parte, transferidos para as empresas e/ou rateados entre os integrantes do grupo criminoso.

Segundo as apurações, por meio da empresa de fachada Ativa Precatórios, da cidade de Pinhalzinho/SC, foram liberados pela Justiça um total de R$ 924.479,10, mas pagos às vítimas apenas R$ 91.600,00, representando uma taxa de pagamento de apenas 9,91% do valor real devido, uma apropriação indevida de R$ 832.879,10.

Já por meio da BrasilMais Precatórios, com sede em Fortaleza/CE, foram liberados valores ainda mais alarmantes: de R$ 5.106.773,12 liberados pela Justiça as vítimas receberam somente R$ 503.750,00, resultando em uma taxa de pagamento de apenas 9,86% do valor devido, uma apropriação de R$ 4.603.023,12.

Somando as duas empresas, o valor total adquirido pela organização criminosa e liberado pela Justiça foi de mais de R$ 6 milhões, porém os idosos explorados pelo esquema receberam menos de 10% do valor que lhes era devido por direito.

A investigação aponta que o esquema estaria utilizando as empresas de fachada para aquisição de créditos judiciais e como instrumento para formalizar as cessões fraudulentas e, ao mesmo tempo, com método para distanciar os criminosos que extrapolavam a função de advogado das reclamações e questionamentos das vítimas. Como as empresas de fachada eram as novas detentoras dos créditos judiciais, quaisquer esclarecimentos ou questionamentos financeiros eram direcionados a elas, fato que, sob a aparência de legalidade e boa-fé, denuncia o complexo emaranhado criado pela organização criminosa e sofisticação dos golpes.

Durante a investigação foram identificadas planilhas de controle financeiro detalhando a divisão de lucros, comissões pagas, investimentos e despesas, revelando a partilha de proveitos ilícitos entre os envolvidos. Também foram coletados registros de procurações e substabelecimentos que indicam a transferência de poderes de representação entre os criminosos que extrapolavam a função de advogado e as empresas.

Post

Aquisições Estratégicas Pós-Sentença

A análise dos dados revelou que as empresas adquiriam os direitos sobre os créditos mesmo após a prolação de sentenças de primeira ou segunda instância, quando o direito da vítima já estava consolidado. Essa prática visava maximizar os lucros do grupo, assumindo menor risco processual.

Patrocínio Infiel e ofensa à ética da advocacia

Há fortes indícios de crime de patrocínio infiel, onde os criminosos que extrapolavam a função de advogado, valendo-se da estrutura de empresas criadas pela organização criminosa, atuavam em conflito de interesses com seus próprios clientes, em clara afronta à lei e à ética da advocacia, desviando os direitos dos idosos para o caixa do grupo.

Abrangência Geográfica

A atuação da organização criminosa se estende por no mínimo 4 estados brasileiros, com foco na captação de vítimas em regiões específicas: Santa Catarina; Ceará; Alagoas; e Rio Grande do Sul.

Além desses estados confirmados, o escritório investigado também declarou atuação no Paraná e planos de expansão para São Paulo e demais estados brasileiros. A Ativa Precatórios concentrou suas operações na região oeste de Santa Catarina, enquanto a BrasilMais Precatórios, sediada no Ceará, expandiu suas atividades para o Rio Grande do Sul. O IDAP, utilizado para captação de clientes, abrangeu 37 comarcas distribuídas entre Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Impacto social

Essa ampla abrangência geográfica demonstra a ambição e o potencial de impacto criminoso e social da organização criminosa, que vitimizou principalmente idosos e aposentados em várias regiões do país. A operação busca desmantelar a estrutura criminosa, proteger as vítimas já identificadas e assegurar a responsabilização de todos os envolvidos e o bloqueio de bens da organização para o ressarcimento das vítimas.

Orientação às Vítimas

Pessoas que se identificarem como vítimas do esquema devem procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência, o qual será posteriormente encaminhado ao Ministério Público para as providências cabíveis. Também podem contatar a Ouvidoria do Ministério Público ou a Promotoria de Justiça de Modelo. É importante que todas as vítimas se manifestem para que a investigação possa dimensionar adequadamente o alcance dos crimes, identificar os lesados e garantir a devida reparação dos danos causados.

  • Promotoria de Justiça da Comarca de Modelo - Whatsapp: (49) 99200-7462
  • Ouvidoria do MPSC: E-mail: ouvidoria@mpsc.mp.br / Fone: (48) 3229-9306 ou 127, das 9h30 às 19h
  • Delegacia de Polícia mais próxima

Origem do Nome da Operação

A denominação "Entre Lobos" foi escolhida para refletir a gravidade e a natureza predatória dos crimes investigados. O nome faz alusão ao abuso de confiança praticado por criminosos que extrapolavam a função de advogado que, traindo a ética da boa advocacia, ao invés de defender os interesses de seus clientes - em sua maioria idosos e vulneráveis -, apropriaram-se de valores de forma fraudulenta, atuando como verdadeiros predadores. Além disso, o nome da operação presta homenagem a uma das vítimas falecidas durante a investigação, de sobrenome "Wolf", que remete ao termo "lobo" em inglês. O nome também simboliza uma homenagem a outras vítimas fraudadas que, infelizmente, vieram a óbito durante a investigação sem receber o que era devido.

GAECO

O Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (GAECO) é uma força-tarefa conduzida pelo Ministério Público de Santa Catarina e composta pela Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal, Receita Estadual e Corpo de Bombeiros Militar, e tem como finalidade a identificação, prevenção e repressão às organizações criminosas.




Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC