
O inovaDay em Santa Catarina foi lançado nesta quinta-feira (24/7), na sede do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que este ano é o anfitrião do evento. De maneira simples, o palestrante Álvaro Gregório mostrou a uma plateia de cerca de 80 pessoas que inovar na gestão pública é o melhor caminho para atender a sociedade.
Gregório é idealizador do inovaDay em São Paulo, professor nas áreas de comunicação e administração e criador de projetos como e-Poupatempo e o Portal Cidadão SP. "Não se muda nada sem que ocorra mudança da cultura na gestão pública. A inovação não é ardilosa, ela é desafiadora", comentou.
O inovaDay foi criado em 2009 em São Paulo. São encontros mensais com palestrantes e estudos de caso sobre inovação no setor público. O objetivo é discutir iniciativas que contribuam para aproximar mais as pessoas das instituições que as representam. O MPSC integra o projeto em Santa Catarina como apoiador e será também o anfitrião dos eventos mensais, organizados pelo Centro de Estudos Temáticos de Administração Pública (CETEM).
"Nós estamos muito felizes em fazer do MPSC a sede das discussões sobre inovação na gestão pública. Agora, estamos todos olhando nos olhos um dos outros, juntos, para pensar nessa importante temática. Quem ganha é a sociedade", afirmou a Promotora de Justiça Vanessa Wendhausen Cavallazzi, Diretora do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do MPSC, durante a abertura do evento, que teve a presença de representantes de diferentes setores do poder público e da sociedade civil organizada.
Ainda segundo a Diretora do CEAF, todas as pessoas que compareceram ao evento firmaram um compromisso que será renovado a cada edição do inovaDay. Os participantes serão multiplicadores de ideias inovadoras nas suas instituições. "Em cada palestra e debate do inovaDay, que acontecerá mensalmente no MPSC, a troca de ideias entre as instituições e o movimento de levar oxigênio novo para dentro delas contribuirá para uma administração pública mais ágil e conectada com as pessoas", ressalta Vanessa Cavallazzi.
Um dos agentes públicos presentes era o vereador de Florianópolis Pedro de Assis Silvestre. Para ele, a mudança cultural é parte fundamental para uma nova administração pública e a inovação deve partir de cada um. "Vejo também que os órgãos públicos precisam conversar mais. No momento em que tivermos mais diálogos conseguiremos mudar".
A professora Silvia Dias que ministra aulas para alunos de séries iniciais da Escola Municipal Luiz Cândido da Luz, localizada no Bairro Vargem do Bom Jesus, em Florianópolis, acredita que transformar a teoria em prática é desafiador e algo que deve ser perseguido.
"Todo dia a gente tenta, apesar de o sistema ser bem engessado e limitado. O que a gente pode fazer é estudar mais, testar e tentar novas práticas, oxigenar a sala de aula. A educação de base fica, ainda, muito à mercê dos papéis. Ainda temos uma educação muito burocrática", lamenta a professora.
A próxima edição do inovaDay será no dia 29 de agosto, das 9h às 17h, e vai debater três temas: municípios catarinenses e as redes sociais; Promotor de Justiça e o uso das redes sociais; e o Centro de Operações Rio - Business Intelligence. O evento é aberto a todos os interessados. Basta fazer a inscrição previamente pelo
site do Cetem . Confira a entrevista com o palestrante Álvaro Gregório:
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC: O fato de o setor público ser um pouco mais burocrático do que o privado, facilita ou dificulta a inovação?
Álvaro Gregório: A burocracia, em qualquer setor, seja público ou privado, dificulta. Aliás, a burocracia não dificulta somente a inovação, como também o trânsito das ideias. A velocidade e agilidade com que uma pessoa fala com a outra é interrompida pela burocracia. O melhor modelo para suplantar isso é o trabalho em rede. Sobrepor a essa burocracia, uma rede de pessoas. A sociedade está organizada assim e todos trabalham juntos. Nos anos 80 combater isso parecia uma subversão, mas, hoje, não. Hoje todos querem fazer uma rede social na sua organização para justamente aproveitar essa inteligência que flui sem burocracia ou apesar dela.
COMSO: Que conselhos você daria para os servidores que desejam inovar na gestão pública?
A.G.: O primeiro deles é assistir às palestras do inovaDay. Lá temos várias referências. Nos preocupamos em formar uma cultura de inovação, mostramos vários exemplos de pessoas que fizeram e fazem coisas inspiradoras no serviço público. Outra forma de iniciar é convencendo o seu próximo, porque sozinho é desanimador. Estamos falando de inovação há 10 anos no governo do Estado de São Paulo e por várias vezes a gente se sentiu pregando no deserto. É preciso juntar pessoas. Hoje, aqui, estamos fazendo justamente isso. São Paulo e Santa Catarina estão unidos e discutindo inovação. Temos muitos problemas comuns que não só os políticos vão resolver.
COMSO: Inovação e experimentação são a mesma coisa?
A.G.: Essa pergunta é muito importante. Experimentar é preciso. Se você não experimenta, como parte do processo, com foco no seu usuário, ou no caso da gestão pública, com foco no cidadão, você acaba perdendo a oportunidade de ver novas coisas. Em síntese, a experimentação é o passo inicial da inovação.
COMSO: São Paulo, que é o berço do Inovaday, já é um lugar melhor para se viver por conta dele?
A.G.: Esse grupo de inovação do qual tenho o privilégio de fazer parte é um grupo pequeno, mas dele saíram coisas interessantes para o Estado. O e-Poupatempo nasceu ali e é um marco em termos de centrais de atendimento ao cidadão. Estamos criando práticas interessantes, mas é o cidadão quem pode julgar isso melhor. Não sei se já fizemos um Estado melhor, mas um lugar melhor para se trabalhar eu tenho certeza. É muito legal quando alguém entra na nossa sala e ilumina ideias escondidas. Lançaremos, em breve, um bloco no inovaDay chamado "Santo de Casa Faz Milagre". Ele servirá para trazer à tona experiências que podem ser aplicadas em outros locais e que são feitas quase clandestinamente. O inovaDay vai difundir ideias assim.
COMSO: Todos podem inovar? Como um estagiário, por exemplo, pode inovar na gestão púbica?
A.G.: Sim, todos podem inovar. Um estagiário, por exemplo, pode inovar primeiro influenciando os seus chefes, levando o que viu no mercado, na escola. Trazendo ao trabalho o que vê como cidadão, como jovem e como alguém que pega o transporte coletivo, que estuda numa faculdade pública, ou privada, enfim, tanto faz, mas que está vivendo a sociedade. Esse estagiário tem que prestar atenção nessas coisas e dizer ao seu chefe: olha, estamos errando aqui. O estagiário não tem medo de errar. Esse é o lado positivo de ser estagiário.